quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Amar no silêncio




            Há algum tempo venho refletindo sobre o amor no silêncio. É prática de amor mais sacrificial que existe para o ser humano. Amar no silêncio é suportar diversas situações, distância, rompimentos, e o mais desafiador: o tempo. Pois sejamos sinceros: muitas vezes não queremos esquecer quem amamos.

           Nas minhas desastradas experiências amorosas, tive que fazer inúmeros sacrifícios. Não é fácil amar uma pessoa quando ela se vai. Não sabemos nem por onde começar, nem o que fazer de um ponto em diante. Amar no silêncio é um desafio a nós mesmos, é consagrar nosso sentimento ao tempo e pedir que ele se encarregue do resto.

       Isso pode soar de modo religioso, mas é uma forma de transcender o sentimento para a temporalidade. Pois, quando amamos de forma comum, nos tornamos extemporâneos: é o sentimento de eternidade que toma conta de nós e, quando ele é rompido, causa um enorme prejuízo a nós mesmos. Amar no silêncio é subjugar o sentimento ao tempo, deixar que os dias e as noites possam tomar conta do que se passa no coração. É a encarnação da renúncia.
         
             É paradoxal deixar que o sentimento se torne algo temporal se não queremos esquecer, já que o tempo é corrupção e finitude. Não sejamos ingênuos: até o amor que dura uma vida um dia termina, seja quando a morte chegar. Todo amor é passível pela temporalidade, mas mascaramos com a eternidade para criar uma cega esperança.

         
        Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897) dizia que a melhor forma de se amar uma pessoa é rezar por ela. Ou seja: é não possuir ninguém no coração, é deixar que os dias possam tocar adiante para que o ser amado por nós jamais seja destruído em nossas mentes.

     

         Amar no silêncio é carregar uma existência concreta. Não criar expectativas e ser realistas. Saber que há distância, rompimento, fim, morte, adeus e outras tristes realidades. É dizer "eu te amo" e deixar que as horas levem essas palavras, mas dessa vez sem que doam.


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